Quem sou eu

Minha foto
Teresina, Piauí, Brazil
Sou doutoranda em Estudos linguísticos pela UFMG e professora de Língua Portuguesa. Embora alguns (muitos) eternamente alunos me chamem de professora (ou, mesmo, professorinha) ainda adoro o título de estudante.

domingo, 3 de junho de 2012

A hipocrisia nossa de cada dia


Tenho o hábito diário de olhar minha página no Facebook, embora não me acrescente muito, me ajuda passar o tempo e nunca perder de vista pessoas que gosto e que não posso ver pessoalmente sempre. Mas me sinto deveras incomodada com o jogo de faces exagerado que percebo. É certo que as pessoas postam frases com pensamentos idiotas, relatam situações cotidianas idiotas, e eu mesma confesso fazer também, mas isso não é o pior. O que eu acho um retrocesso é o fato de as pessoas não saberem, talvez porque não tenham sido educadas para isso, receber críticas; não aceitam, na verdade. E eu digo isso porque me ocorreram algumas situações, poucas, claro, já que fiquei tão assustada, que passei a ter receios de criticar seja lá o que for, na net, e vida real, que também acontece semelhantemente.

Certa vez, uma pessoa postou no Facebook uma nota de sobremaneira preconceituosa. Eu sei que há muito preconceito, e até tolero muitos, mas esse era demais, porque não era um, eram vários, mexia com pessoas, história, língua, enfim, era um texto de mais um desses babacas que se acham cultos porque conseguem escrever de acordo com a norma padrão, e, por isto, julgam indigna de salvação qualquer criatura que, pelo menos, fale fora d[ess]a norma. É claro que a pessoa de quem falo é tão culta que não sabe que fala e escrita são duas modalidades de uso da língua obviamente diferentes. Pois bem, não aguentei, e fiz um comentário simples. Apenas disse resumidamente o que achava daquele texto. Em nenhum momento a ofendi, a menosprezei, nada, apenas, delicadamente, defendi a massa que estava sendo oprimida. Tamanha surpresa tive quando o autor do texto respondeu ao meu comentário muito ofendido, me rebaixando e, ao mesmo tempo, se perguntando o porquê de eu estar me intrometendo se não estava inserida nos sujeitos do texto e, dessa forma, não tinha porque me sentir incomodada. Detalhe, para minha surpresa, o meu comentário foi respondido, mas antes fora apagado.

Mais intrigada ainda, trepliquei, enfatizando a crítica já apagada, retrucando o comentário inflamado e questionando o fato de a minha voz ter sido silenciada. Surpresa maior tive no dia seguinte, o meu comentário evidentemente surtira efeito, porque a nota foi apagada por completo, texto preconceituoso e comentários... Eu também havia sido apagada, fui excluída da lista de amigos da pessoa em questão.

Outra situação foi em um comentário ‘inocente’ que fiz, em que obrigava alguém a chegar a uma conclusão tão óbvia ao ponto de ele não perceber. Eu, de tão boba que sou, achei que fazia um favor ao ajudar essa pessoa não sair justificando uma única saída para uma situação, quando, na verdade, havia outra, mais simples (e, ao contrário da primeira, lícita). Porém, não me dei conta que, ao fazer a pessoa enxergar o óbvio, eu a ofendia... Dias depois, recebi um aviso no Facebook de um comentário em que eu era citada. Fui ver. Era um texto de mais de uma página que, supostamente, se prestava a responder ao meu comentário, que, quando feito, nem exigia uma resposta, muito menos daquele tamanho. Li as primeiras linhas e percebi o teor da mensagem: uma mágoa contida numa ‘pseudoanálise’ detida de cada grupo de palavra por mim utilizado na composição do comentário que havia feito há mais ou menos uma semana. Não dei continuidade à leitura, estava sem tempo e paciência, e fiquei impressionada com o tamanho da mágoa que eu despertara. Certamente, no desenrolar daquele longo comentário de meu comentário, eu deva ter sido ‘desmentida’. Até onde li, vi que o propósito era convencer (os outros) que eu era ignorante e não tinha conhecimento suficiente para a observação simples que havia feito há alguns dias.

Essas situações, somadas às outras que, inevitavelmente, já vivi, me deixaram triste. Não com essas pessoas que, talvez até inconscientemente, tentaram me desqualificar, porque eu as critiquei publicamente, mas por concluir que tão pequenos somos nós ao ponto de não suportarmos uma crítica, ao ponto de nos ofendermos com a verdade, por mais óbvia que esta nos pareça, o quanto preferimos nos fechar ao círculo de nosso próprio umbigo, sem querer ver além deste, por medo de parecermos menores. O que percebo é que vivemos em um jogo de faces tão exacerbado que, ao menor perigo de a nossa face negativa ser mostrada, somos capazes de qualquer coisa, apagar, silenciar, distorcer, passar por cima de seja lá quem for... Tudo vale para continuarmos parecendo ser, para que os outros continuem comprando aquela imagem positiva construída, na verdade, sem muito ou a nenhum custo.

Achamo-nos melhores que o resto do mundo por termos um diploma, um título, um cargo, um bem... De modo que os construímos tão bem, ao ponto de parecerem gigantes aos olhos de quem nos vê, a fim de que possamos parecer superiores, sobre-humanos, deuses... A cada dia venho sentindo mais a hipocrisia humana, nos pequenos, embora decisivos, detalhes. São tantas situações, a meu ver, absurdas, que nos acostumamos a suportar e achar normal a avalanche de egocentrismos exibidas a preço nenhum nas redes sociais ou em qualquer outro lugar.