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Teresina, Piauí, Brazil
Sou doutoranda em Estudos linguísticos pela UFMG e professora de Língua Portuguesa. Embora alguns (muitos) eternamente alunos me chamem de professora (ou, mesmo, professorinha) ainda adoro o título de estudante.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ser Piauiense


Ninguém, nunca - por mais léxico que gaste - será capaz de me convencer que amar o Piauí significa fazer humor negro acerca de seu povo e de seus problemas (que todos sabem, não são poucos!). Sabemos que, assim como todos os estados do Brasil, o Piauí tem problemas, muitos iguais ao restante dos outros e muitos peculiares, como os outros também têm os seus... Ver isso de forma bem humorada pode ser, talvez, uma maneira de ser otimista. Fazer piada (a meu ver, sem graça!) sobre as misérias de um povo (vítima de um sistema social capitalista, cruel e desumano) é, no mínimo, sadismo. Vejam, no mínimo! Isso numa avaliação simplificada de um fato que me chocou há alguns dias.
Foi exibida no Programa do Jô, dia 22 de outubro, uma entrevista com uma "humorista", ex-piauiense, auto-intitulada "deformada" em Jornalismo. Pois bem, essa pessoa, que já não lembro mais o nome - tenho um sério problema de não lembrar de coisas pequenas - deu um show: descreveu a miséria do Piauí e das pessoas do Piauí sob a forma de piadinhas. Piadinhas mesmo! Dizia estar fazendo "humor", vejam só: humor!
Que tipo de humor é esse que se constrói em cima das desgraças alheias? Que apresenta um povo de uma forma caricaturada, desigual do resto do mundo e, por isso, inferior?
Sou do Piauí, amo o meu Estado, ja tenho viajado pelo Brasil e sempre faço questão de falar bem da minha terra, isso porque sou de lá e, por isso mesmo, sei das dificuldades e da beleza do povo, da cultura, do lugar... Acredito que isto é o que é ser piauiense. Já que tive a oportunidade de receber uma formação de qualidade (lá mesmo no meu estado!), retribuo da melhor forma possível. Não faço e nem aceito que façam piadinhas (sem graça) diante de mim.
Viajando pelo Brasil, descobri ainda mais virtudes do Piauí.
Às piadas que foram feitas pela "humorista" só tenho mais algo a dizer: sinto muito. Sinto por ela não ter tido a mesma oportunidade que tive, de ter acesso ao ensino básico e superior de qualidade; sendo do interior, de encontrar em Teresina, o que, de fato, sonhava e buscava; de não precisar me refugiar no Maranhão para fugir de um dos três destinos apontados pela "humorista" (ser funcionário de prefeitura, vender no Paraíba ou casar grávida) . Para mim, nenhum dos três foram dados como oportunidades, tive outras, confesso, bem mais produtivas!
Sinto muito, lamento por você!
Quanto ao Piauí, para quem não conhece - ou conhece apenas a partir de "piadas" do tipo daquelas exibidas no Programa do Jô, 22/10/09 - tenho um convite. Conheça mais o Piauí, mas o Piauí mesmo, ao vivo, a cores, se "bulindo".
O Piauí tem problemas? Nossa! Muitos! O Brasil tem problemas, tem miséria! E isso não é engraçado, é triste, é ruim... Mas há belezas também (e o que seríamos de nós sem elas): o povo é muito lindo, a cultura é muito rica, há lugares maravilhosos para se conhecer no Piauí, e muito para se viver também! Mas para tudo isto, para conhecer este lado que não é mostrado pelas grandes emissoras de televisão, é preciso ver de fato, conhecer de fato... Depois construa a sua própria imagem do Piauí, como eu construí a minha...
Sou piauiense, sou da terra do sol, sou da terra do pequi, da siriguela, do forró (dançado junto), da Serra da Capivara, do Encontro dos Rios Parnaíba e Poty, da Lenda do Cabeça de Cuia... Enfim, da terra de um povo sofrido, é verdade! mas lutador, guerreiro, que, mesmo esquecido pelas autoridades competentes, está todo dia na labuta...
Isto é ser piauiense, isto é ser brasileiro!

6 comentários:

Lourdilene Vieira disse...

Essa é a minha resposta à referida entrevista, que me chocou tanto, não só pelo fato de eu ser do Piauí, mas, sobretudo, pela forma caricaturada em que o estado do Piauí e os piauienses foram apresentados.
Aceito opiniões, inclusive as contrárias as minhas.

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Bela resposta... e sou forçado a concordar; afinal, amo nossa terra e nossa gente e a maneira que descreveu o seu sentir foi perfeita, bastante similar ao modo como vejo... agora há o seu viés - e lado oposto... só pra ter um contraponto, vejamos...

Certa feita, conversando com um amigo, a transitar pelos corredores da UFPI, ouvimos de alguém que passava ao largo e dizia mais ou menos isto para aqueles que com ele seguiam (sic!): “devemos gostar é de música piauiense... estou cansado de pessoas que ‘curtem’ outros estilos... que não prezam o que é nosso... porcaria de rock... porcaria de música clássica!”
Floreios à parte, eu me pergunto: devemos apreciar o que é bom, por ser melhor, ou o que é nosso, simplesmente por ser nosso? Devemos cultivar gosto pelo que se apresenta como esteticamente superior (e creio tenhamos meios para averiguar em termos algo objetivos o que é melhor no campo da arte, como em outros campos mais), ou devemos apreciar e nos dedicar [tão-somente] àquilo que é nosso – muito embora eventualmente possa se tratar de arte pueril, de arte menor, muitas vezes sequer arte, persistindo num ufanismo sem sentido ante a arte universal (ou mesmo ao saber universal), àquilo que é clássico (no sentido de pioneiro e a um só tempo de norte maior para um dado campo – seja o da arte, o da filosofia, o da ciência, o da religião, etc.)?

Lourdilene Vieira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lourdilene Vieira disse...
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Lourdilene Vieira disse...

Francisco,
Eu sou do Piauí e, como já escrevi antes, tenho muito orgulho de ser. Porém, embora valorize a música, a literatura, enfim, o Piauí, nos seus méritos, acredito que devemos buscar coisas novas, diferentes, e isso equivale considerar também como "bom" aquilo que está fora do círculo do nosso umbigo.
Este regionalismo ufanista e exarcerbado de alguns, na verdade, pode ser ignorância. Algumas pessoas se fecham tanto numa cultura local que formam seu ponto de vista sobre uma base muito estreita, com fundamentos muito específicos... E, pior, as vezes apenas reproduzem ideologias aprendidas, sem muitos fundamentos...
Eu gosto de boa música, de boa literatura, e no Piauí existe isso, assim como fora do Piauí.
Quanto a considerar que existe o que é bom, clássico, esteticamente superior à nossa cultura local, temo que este pensamento esteja erguido sobre uma série de preconceitos, que têm por base tomar como exemplo de sapiência, de beleza o que é de fora, do outro. Mas ao mesmo tempo entendo que devemos sim buscar fora um norte mais firme, mais amplo... De modo que possamos alargar nossos horizontes e perspectivas.
Temos um ditado popular que eu gosto muito: "quando não é 8 é 80". Todavia, eu o sigo contrariamente: não podemos ser demais, e nem de menos. Permaneçamos no meio, acho que mantemos, assim, a coerência.

LEÃO disse...

Chocou, não só você, eu, ou qualquer outro Piauiense, essa senhora chocou toda uma nação, porque qualquer pessoa em sã consciência sabe que quando uma pessoa usa uma muleta para subi na vida, uma hora ela cai e esse tipo de queda quase sempre é fatal!
Sem discriminação nenhuma, eu acho que ela poderia ter usado melhor os 15(quinze) minutos de fama dela é ter sim agradecido pela boa acolhida que ela teve no nosso querido Piauí, por que mesma ela sendo Maranhense, como muitos dos nossos bons vizinhos são, ela deve ter sim respeito pelo Estado e pelo Povo que lhe acolheu.
Um abraço do amigo,
Edilmar Leão (Picos-Piauí)
Guarulhos-SP